quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril – É agora

Nessa manhã revolvida de Abril
De sonhos e alentos perdidos
Uma menina seus olhos despertou
De espanto
Incrédulos
Surpreendidos
Seria verdade,
Seria sonho
Que finalmente dessa longa noite
Escura como o breu,
O pesadelo de podre tombaria?
Correu pelas ruas não mais desertas
Não cinzentas como no outro dia
Mas cheias de alegria e esperança
De um povo digno mas tão sofrido
Um mar de gente se juntava
Abraçadas sem se conhecerem
Unidas na mesma vontade e desejo
De cantar e sentir a liberdade
Tão presa e tão oprimida
Trazida pela coragem e generosidade
De soldados filhos desse povo
Conduzidos pelos ramos de um Salgueiro
Ao abrigo e à sombra de uma azinheira
De contente e embriagada
Pela sofregridão desejada e sentida.
A menina pulava e ria
Seus caracóis ao vento esvoaçavam
Descalça pela calçada procurava
Um presente uma dádiva
Um gesto de gratidão
Para que nos canos das espingardas
Não troassem balas nem fogo
Mas o amor e a paixão
que entre todos se partilhava.
Não foram rosas nem cardos
Foram cravos que encontrou
Colheu, ergueu e colocou.
A menina foi crescendo desenvolta
Excessos alguns dizem que cometeu
Próprios da adolescência e juventude
Que esperavam de uma criança
Que viveu anos a fio oprimida e reprimida?
Mas foi por entrega e por bem querer
O bem dos seus como a si mesma
Piores os devaneios calculados
de corruptos e instruídos.
Foi lutando foi experimentando
Ora à esquerda ora à direita
Nas promessas de uns acreditando
Nas vãs ilusões de outros perdida
Não é esse o sentido e o caminho
Duvidava a criança confundida
olhando o rumo tomado
Era em frente que queria seguir.
Tornada adulta a doce criança
O amargo de tantas desilusões
Foi tornando a sentir no sonho perdido
Da liberdade, dignidade e do seu próprio pão
Não são apenas os direitos adquiridos
Que de novo corvos e vampiros tomaram de assalto
São não mais nem menos
Que a recompensa acordada do seu esforço
Do seu trabalho e sua justiça
Árduamente feita ao longo dos anos
Que quem devia não soube gerir.
Ó criança que tanto cresceste e viveste
Onde páras neste momento?
Estarás esquecida como tantos
Dessas promessas de Abril
Acomodada pelas opulentas regalias
De costas voltadas aos seus
Ou estarás por aí esquecida entre muitos
Perdida nesse mar sem faina
Sem esperança sem de novo olhar a luz?
Acorda criança renascida
Criança rejuvenescida
Volta a correr pelas calçadas
Faz juz ao teu nome Democracia
Pois foi no amanhecer desse dia
Que encontraste o sentido de um povo
Pega nas “armas” novas que tiveres
Dá voz à tua indignação e à tua revolta
Exalta teus brandos costumes
Cala de vez e verdadeira justiça faz
A todos os abutres que espreitam
Já não pela calada como outrora
Mas descarada e à vista.
O teu salgueiro já definhou,
Espezinhado e humilhado
Por tolos cinzentos que tudo sabem
Menos a verdadeira razão de ser.
Procura criança novos caminhos
Novas árvores onde te agarrares
Novos cravos, novas flores
Não te deixes enganar
Tens força, és guerreira.
Recupera a dignidade
Recupera o teu jardim!


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